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sexta-feira, 24 de julho de 2020

A Cura da Alma - O paralítico de Cafarnaum

Textos bíblicos: Mateus 9:1-8; Marcos 2:1-12; Lucas 5:17-26


Muitos dos que iam ter com Cristo em busca de auxílio, haviam trazido sobre si a enfermidade; todavia, Ele não Se recusava a curá-los. E quando a virtude que d'Ele provinha penetrava nessas pessoas, elas experimentavam a convicção do pecado, e muitos eram curados de sua enfermidade espiritual, bem como da doença física.
Entre esses estava o paralítico de Cafarnaum. Como o leproso, esse paralítico perdera toda esperança de restabelecimento. Sua doença era o resultado de uma vida pecaminosa, e seus sofrimentos eram amargurados pelo remorso. Em vão apelara para os fariseus e os doutores em busca de alívio; pronunciaram incurável o seu mal, declararam que havia de morrer sob a ira de Deus.
O paralítico imergira no desespero. Ouviu então contar as obras de Jesus. Outros, tão pecadores e desamparados como ele, haviam sido curados, e foi animado a crer que também ele o poderia ser, se fosse levado ao Salvador. Sua esperança quase se desvaneceu ao lembrar-se da causa de seu mal, todavia não podia rejeitar a possibilidade da cura.
Seu grande desejo era o alívio do grande fardo do pecado. Ansiava ver a Jesus, e receber a certeza do perdão e a paz com o Céu. Então estaria contente de viver ou morrer, segundo a vontade de Deus.
Não havia tempo a perder; sua carne consumida já apresentava indícios de morte. Suplicou aos amigos que o conduzissem em seu leito a Jesus, o que empreenderam satisfeitos. Tão compacta era, porém, a multidão que se aglomerara dentro e em volta da casa em que estava o Salvador, que era impossível ao doente e seus amigos chegarem até Ele, ou mesmo pôr-se-Lhe ao alcance da voz. Jesus estava ensinando na casa de Pedro. Segundo seu costume, os discípulos sentaram-se ao Seu redor, “e estavam ali assentados fariseus e doutores da lei que tinham vindo de todas as aldeias da Galileia, e da Judéia, e de Jerusalém”. Lucas 5:17. Muitos deles tinham ido como espiões, buscando acusação contra Jesus. Além destes apinhava-se a promíscua multidão, os fervorosos, os reverentes, os curiosos e os incrédulos. Achavam-se representadas diferentes nacionalidades e todos os graus sociais. “E a virtude do Senhor estava com Ele para curar.” Lucas 5:17. O Espírito de vida pairava sobre a assembleia, mas os fariseus e os doutores não Lhe discerniam a presença. Não experimentavam nenhum sentimento de necessidade, e a cura não era para eles. “Encheu de bens os famintos, despediu vazios os ricos.” Lucas 1:53.
Repetidamente procuraram os condutores do paralítico forçar caminho por entre a multidão, mas nulos eram seus esforços. O doente olhava em redor com inexprimível angústia. Como poderia ele abandonar a esperança quando tão perto estava o anelado auxílio? Por sugestão sua, os amigos o suspenderam para o telhado da casa e, abrindo o teto, baixaram-no aos pés de Jesus.
O discurso foi interrompido. O Salvador contemplou a dolorosa fisionomia, e viu os olhos súplices n'Ele cravados. Bem conhecia Ele o anelo daquela alma oprimida. Fora Cristo quem lhe infundira convicção à consciência quando ele ainda se achava na própria casa. Quando se arrependera de seus pecados, e crera no poder de Jesus para restaurá-lo, a misericórdia do Salvador lhe abençoara o coração. Jesus observava o desenvolver-se no primeiro tênue raio de fé a convicção de que Ele era o único auxílio do pecador, e a vira se fortalecer a cada esforço por chegar à Sua presença. Fora Cristo que atraíra o sofredor a Si. Agora, em palavras que soavam qual música aos ouvidos atentos do enfermo, o Salvador disse: “Filho, tem bom ânimo; perdoados te são os teus pecados.” Mateus 9:2.
O peso da culpa cai da alma do doente. Não pode duvidar. As palavras de Cristo revelam Seu poder de ler o coração. Quem pode negar Seu poder de perdoar pecados? A esperança toma o lugar do desespero, e a alegria o do opressivo acabrunhamento. Desaparece o sofrimento físico do homem, e todo o seu ser se acha transformado. Sem mais nada pedir, repousa em tranquilo silêncio, demasiado feliz para falar.
Com a respiração suspensa de interessados que estavam, muitos observavam cada gesto nesse estranho acontecimento. Muitos sentiam que as palavras de Cristo eram um convite para eles mesmos. Não eram eles enfermos da alma por causa do pecado? Não estavam ansiosos de ser libertados desse fardo?
Mas os fariseus, receosos de perder a influência para com o povo, diziam em seu coração: “Por que diz este assim blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus?” Marcos 2:7.

Fixando neles o olhar, sob o qual se intimidaram e retrocederam, Jesus disse: “Por que pensais mal em vosso coração? Pois o que é mais fácil? Dizer ao paralítico: Perdoados te são os teus pecados, ou: Levanta-te e anda? Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na Terra autoridade para perdoar pecados”, disse Ele voltando-Se para o paralítico: “Levanta-te, toma a tua cama e vai para tua casa.” Mateus 9:4-6.
Então aquele que havia sido levado num leito a Jesus pôs-se de pé com a elasticidade e a força de um jovem. E “tomando logo o leito, saiu em presença de todos, de sorte que todos se admiraram e glorificaram a Deus, dizendo: Nunca tal vimos.” Marcos 2:12.
Nada menos do que poder criador é o que foi requerido para restituir à saúde aquele corpo em decadência. A mesma voz que comunicou vida ao homem criado do pó da terra infundira vida ao paralítico moribundo. E o mesmo poder que dera vida ao corpo renovara o coração. Aquele que, na criação, “falou, e tudo se fez”, que “mandou, e logo tudo apareceu” (Salmos 33:9), comunicara vida à alma morta em ofensas e pecados. A cura do corpo era uma evidência do poder que renovara o coração. Cristo mandou que o paralítico se erguesse e andasse, “para que saibais”, disse Ele, “que o Filho do Homem tem na Terra autoridade para perdoar pecados”Mateus 9:6.
O paralítico encontrou em Cristo tanto a cura da alma como a do corpo. Ele necessitava saúde da alma antes de poder apreciar a do corpo. Antes de poder ser curada a enfermidade física, Cristo precisava dar alívio à mente, e purificar a alma do pecado. Essa lição não deve ser passada por alto. Existem hoje milhares de pessoas a sofrer de doenças físicas, as quais, como o paralítico, estão ansiando a mensagem: “Perdoados te são os teus pecados.” Mateus 9:2. O fardo do pecado, com seu desassossego e desejos não satisfeitos, é o fundamento de sua doença. Não podem encontrar alívio enquanto não forem ter com o Médico da alma. A paz que tão-somente Ele pode comunicar restituiria vigor à mente e saúde do corpo.
O efeito produzido no povo pela cura do paralítico foi como se o céu se houvesse aberto e revelado as glórias do mundo melhor. Ao passar por entre a multidão o homem que tinha sido curado, bendizendo a Deus a cada passo, e levando sua carga como se fossem penas, o povo recuava para lhe dar passagem e fitava-o com fisionomia cheia de respeito, murmurando suavemente entre si: “Hoje, vimos prodígios”. Lucas 5:26.
Grande regozijo houve na casa do paralítico quando ele voltou para a família, levando com facilidade o leito em que fora penosamente conduzido dentre eles, pouco antes. Reuniram-se ao seu redor com lágrimas de alegria, mal ousando crer no que seus olhos viam. Ele ali estava no pleno vigor da varonilidade. Aqueles braços que antes estavam sem vida, achavam-se agora prontos a obedecer-lhe à vontade. A carne antes encolhida e arroxeada era agora fresca e rosada. Ele caminhava com passo firme e desembaraçado. Alegria e esperança achavam-se impressos em cada traço de seu rosto; e uma expressão de pureza e paz havia tomado o lugar dos vestígios do pecado e do sofrimento. Alegres ações de graças subiram daquele lar, e Deus foi glorificado por meio de Seu Filho, que restituíra a esperança ao destituído dela, e força ao abatido. Esse homem e sua família estavam prontos a dar a vida por Jesus. Nenhuma dúvida ofuscava sua fé; nenhuma descrença lhes prejudicava a fidelidade para com Aquele que lhes trouxera luz ao ensombrado lar.
A Ciência do Bom Viver, p. 73-79

terça-feira, 21 de julho de 2020

Autores das Sagradas Escrituras - Unidade na diversidade Parte 2

“A Bíblia aponta a Deus como seu autor; no entanto, foi escrita por mãos humanas, e no variado estilo de seus diferentes livros apresenta as características dos diversos escritores. As verdades reveladas são todas dadas por inspiração de Deus (2 Timóteo 3:16); acham-se, contudo, expressas em palavras de homens. O Ser infinito, por meio de Seu Santo Espírito derramou luz na mente e no coração de Seus servos. Deu sonhos e visões, símbolos e figuras; e aqueles a quem a verdade foi assim revelada, corporificaram, eles próprios, o pensamento em linguagem humana.
“Os Dez Mandamentos foram proferidos pelo próprio Deus, e escritos por Sua própria mão. São de composição divina e não humana. Mas a Bíblia, com suas verdades dadas por Deus expressas na linguagem dos homens, apresenta uma união do divino com o humano. Tal união existia na natureza de Cristo, que era o Filho de Deus e o Filho do homem. Assim, é verdade quanto à Bíblia, como acerca de Cristo, que ‘o Verbo Se fez carne, e habitou entre nós’. João 1:14.
“Escritos em diferentes séculos, por homens que diferiam largamente em posições e em ocupação, bem como nos dotes mentais e espirituais, os livros da Bíblia apresentam vasto contraste no estilo, assim como diversidade quanto à natureza dos assuntos desenvolvidos. Formas diferentes de expressão foram empregadas pelos vários escritores; muitas vezes a mesma verdade é apresentada de maneira mais impressionante por um que por outro. E ao apresentarem vários escritores um assunto sob diversos aspectos e relações, poderá talvez parecer ao leitor superficial, descuidoso ou possuído de preconceitos, ser discrepância ou contradição, aquilo em que o estudioso refletido, reverente, de mais clara visão, discerne o fundamento harmônico.
Ao ser apresentada por diferentes pessoas, a verdade é exposta em seus vários aspectos. Um escritor é mais fortemente impressionado com uma faceta do assunto; ele apanha os pontos que se harmonizam com sua experiência ou com sua capacidade de percepção e apreciação; outro apodera-se de um aspecto diverso; e cada um, sob a guia do Espírito Santo, apresenta o que é mais fortemente impresso em sua mente — um diverso ângulo da verdade em cada um, mas uma harmonia perfeita por meio de todos. E as verdades assim reveladas unem-se para formar o todo perfeito, adaptado à satisfação das necessidades dos homens em todas as circunstâncias e experiências da vida.
Deus foi servido de comunicar Sua verdade ao mundo mediante instrumentos humanos, e Ele próprio, por Seu Santo Espírito, habilitou e autorizou homens a fazerem Sua obra. Ele guiou a mente na escolha do que dizer e do que escrever. O tesouro foi confiado a vasos de barro, todavia não é por isso menos do Céu. O testemunho é transmitido mediante a imperfeita expressão da linguagem humana, e não obstante é o testemunho de Deus; e o obediente, crente filho de Deus nele contempla a glória do poder divino, cheio de graça e de verdade.” ME1,p.25,26 - EGW 

Autores das Sagradas Escrituras - Unidade na diversidade Parte1

Há variedade em uma árvore, dificilmente duas folhas são exatamente semelhantes. Todavia esta variedade acrescenta à perfeição da árvore como um todo.
Em nossa Bíblia, poderíamos perguntar: “Por que necessitam Mateus, Marcos, Lucas e João nos Evangelhos, por que necessitam os Atos dos Apóstolos e a variedade de escritores das Epístolas, repetir as mesmas coisas?”
O Senhor deu Sua Palavra justamente pela maneira que queria que ela viesse. Deu-a por meio de diferentes escritores, tendo cada um sua própria individualidade, embora repetindo a mesma história. Seus testemunhos são trazidos juntos em um só Livro, e são como as expressões em uma reunião de testemunhos. Eles não dizem as coisas exatamente no mesmo estilo. Cada um tem uma experiência sua, própria, e essa diversidade amplia e aprofunda o conhecimento que vem satisfazer as necessidades das variadas mentes Os pensamentos expressos não têm estabelecida uniformidade, como se houvessem sido lançados em molde de ferro, tornando monótono o próprio ouvir. Em tal uniformidade haveria perda da graça e beleza que os distingue. ...

O Criador de todas as ideias pode impressionar mentes diversas com o mesmo pensamento, mas cada um pode exprimi-lo por diferentes maneiras, e ao mesmo tempo sem contradições. O fato de existir essa diferença não nos deve confundir nem deixar perplexos. Raramente verão duas pessoas e exprimirão a verdade da mesma maneira. Cada uma se deterá em pontos particulares que sua constituição e educação a habilitaram a apreciar. A luz do Sol incidindo sobre diferentes objetos, empresta-lhes tonalidades diversas.

Mediante a inspiração de Seu Espírito o Senhor deu a Seus apóstolos uma verdade a ser expressa segundo o desenvolvimento de sua mente pelo Espírito Santo. A mente, porém, não é tolhida, como se forçada em determinado molde. — Carta 53, 1900.
O Senhor exprime-se em linguagem imperfeita - O Senhor fala aos seres humanos em linguagem imperfeita, a fim de os sentidos degenerados, a percepção pesada, terrena, dos seres da Terra poderem compreender-Lhe as palavras. Nisto se revela a condescendência de Deus. Ele vai ao encontro dos caídos seres humanos onde eles se acham. Perfeita como é, em toda a sua simplicidade, a Bíblia não corresponde às grandes ideias de Deus; pois ideias infinitas não se podem corporificar perfeitamente em finitos veículos de pensamento. Em lugar de as expressões da Bíblia serem exageradas, como julgam muitos, as fortes expressões se enfraquecem ante a magnificência da ideia, embora o escritor escolha a mais expressiva linguagem para transmitir as verdades da educação mais elevada. Os seres pecadores só podem suportar olhar a sombra do brilho da glória celeste. — Carta 121, 1901. - EGW

Objeções à Bíblia

As mentes humanas variam. Mentes de educação e pensamento diverso recebem diferentes impressões das mesmas palavras, e difícil é a um espírito transmitir a outro de temperamento, educação e hábitos de pensamento diferentes, através da linguagem, exatamente a mesma ideia que é clara e distinta em seu próprio espírito. Todavia para homens sinceros, retos de espírito, ele pode ser tão simples e claro que comunique sua intenção para todos os fins práticos. Caso o homem com quem ele se comunique não seja sincero e não queira ver e compreender a verdade, dará a suas palavras e linguagem a direção que se ajuste a seus próprios desígnios. Interpretará mal suas palavras, jogará com a imaginação, torcer-lhes-á o verdadeiro sentido, e então, entrincheirar-se-á na incredulidade, pretendendo que os sentimentos estão todos errados... Transformam a verdade de Deus em mentira. Leem-na segundo seus desejos de perverter, aplicar mal, torcer voluntariamente as declarações de seu verdadeiro sentido. Declaram eles que a Bíblia pode provar qualquer coisa e tudo, e cada seita prova que suas doutrinas estão certas, e que as doutrinas mais diversas são provadas pela Bíblia.
Os escritores da Bíblia tiveram de exprimir suas ideias em linguagem humana. Ela foi escrita por seres humanos. Esses homens foram inspirados pelo Espírito Santo. Devido a imperfeições da compreensão humana da linguagem, ou da perversidade da mente humana, hábil em fugir à verdade, muitos leem e entendem a Bíblia de maneira a se agradarem a si mesmos. Não é que a dificuldade esteja na Bíblia. Adversários políticos questionam pontos de lei no livro dos estatutos, e tomam atitudes opostas em sua aplicação, e nessas leis.
As Escrituras foram dadas aos homens, não em uma cadeia contínua de ininterruptas declarações, mas parte por parte através de sucessivas gerações, à medida que Deus, em Sua providência, via apropriada ocasião para impressionar o homem nos vários tempos e diversos lugares. Os homens escreveram segundo foram movidos pelo Espírito Santo. Há “primeiro o botão, depois a flor, e em seguida o fruto”, “primeiro a erva, depois a espiga, e por último o grão cheio na espiga”. Marcos 4:28. Isto é exatamente o que as declarações bíblicas são para nós.

Nem sempre há perfeita ordem ou aparente unidade nas Escrituras. Os milagres de Cristo não são dados na ordem exata, mas justo segundo ocorriam as circunstâncias, as quais reclamavam esta divina revelação do poder de Cristo. As verdades da Bíblia são como pérolas ocultas. Devem ser buscadas, desenterradas mediante penosos esforços. Os que apanham apenas uma apressada visão das Escrituras hão de, com seu conhecimento superficial que eles julgam muito profundo, falar nas contradições da Bíblia, e pôr em dúvida a autoridade das Escrituras. Aqueles, porém, cujo coração se acha em harmonia com a verdade e o dever, pesquisarão as Escrituras com o coração preparado para receber impressões divinas. A alma iluminada vê unidade espiritual, um grande fio de ouro através do todo, mas requer paciência, reflexão e oração o rastrear o áureo fio precioso. Contendas amargas a respeito da Bíblia levaram a pesquisas e revelaram as preciosas jóias da verdade. Muitas lágrimas foram vertidas, muitas orações feitas para que o Senhor abrisse o entendimento para Sua Palavra.
A Bíblia não nos é dada em elevada linguagem sobre-humana. A fim de chegar aos homens onde eles se encontram, Jesus revestiu-Se da humanidade. A Bíblia precisa ser dada na linguagem dos homens. Tudo quanto é humano é imperfeito. Significações diversas são expressas pela mesma palavra; não há uma palavra para cada ideia distinta. A Bíblia foi dada para fins práticos.
Diferentes são os cunhos mentais. As expressões e declarações não são compreendidas da mesma maneira por todos. Alguns entendem as declarações das Escrituras segundo sua mente e casos especiais. As prevenções, os preconceitos e as paixões têm forte influência para obscurecer o entendimento e confundir a mente mesmo ao ler as palavras da Santa Escritura.
Os discípulos de caminho para Emaús, necessitaram ser desembaraçados de sua interpretação das Escrituras. Jesus caminhou com eles disfarçado, e como homem falou com eles. Começando por Moisés e os profetas, ensinou-lhes todas as coisas referentes a Ele próprio, que Sua vida, Sua missão, Seus sofrimentos e Sua morte estavam justo em harmonia com o que a Palavra de Deus predissera. Abriu-lhes o entendimento para que compreendessem as Escrituras. Quão pronto estendeu Ele sem rodeios as emaranhadas extremidades e mostrou a unidade e a divina verdade das Escrituras! Quantos homens em nossos tempos necessitam de que seu entendimento seja aberto!
A Bíblia foi escrita por homens inspirados, mas não é a maneira de pensar e exprimir-se de Deus. Esta é da humanidade. Deus, como escritor, não Se acha representado. Os homens dirão muitas vezes que tal expressão não é própria de Deus. Ele, porém, não Se pôs à prova na Bíblia em palavras, em lógica, em retórica. Os escritores da Bíblia foram os instrumentos de Deus, não Sua pena. Olhai os diversos escritores.
Não são as palavras da Bíblia que são inspiradas, mas os homens é que o foram. A inspiração não atua nas palavras do homem ou em suas expressões, mas no próprio homem que, sob a influência do Espírito Santo, é possuído de pensamentos. As palavras, porém, recebem o cunho da mente individual. A mente divina é difusa. A mente divina, bem como Sua vontade, é combinada com a mente e a vontade humanas; assim as declarações do homem são a Palavra de Deus. — Manuscrito 24, 1886. - EGW

segunda-feira, 20 de julho de 2020

A inspiração da Palavra de Deus

Este é um tempo em que se pode fazer com propriedade a pergunta: “Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na Terra?” Lucas 18:8.
Treva espiritual cobriu a Terra e densa escuridão os povos. Há em muitas igrejas ceticismo e infidelidade na interpretação das Escrituras. Muitos, muitos mesmo, põem em dúvida a veracidade e verdade das Escrituras. Os raciocínios humanos e as imaginações do coração do homem estão minando a inspiração da Palavra de Deus, e o que podia ser recebido como garantido, é circundado com uma nuvem de misticismo. Coisa alguma aparece em linhas claras e distintas, assentada no fundamento da rocha. Este é um dos sinais marcantes dos últimos dias.
Este Livro Santo tem resistido aos assaltos de Satanás, que se tem unido com homens maus para envolver em névoas e escuridão tudo quanto é de caráter divino. O Senhor, porém, tem guardado este Livro Santo em sua forma atual mediante o miraculoso poder d'Ele — uma carta ou guia para a família humana a fim de mostrar-lhe o caminho do Céu.
O Livro de Deus, porém, tem sido tão manifestamente negligenciado, que não há senão alguns em nosso mundo, mesmo dos que professam explicá-lo aos outros, que tenham o divino conhecimento das Escrituras. Há homens de saber, que possuem educação colegial, mas esses pastores não alimentam o rebanho de Deus. Não consideram que as excelências das Escrituras irão continuamente desdobrando seus tesouros ocultos como jóias preciosas são descobertas mediante o escavá-las.

Homens há que se esforçam por ser originais, cuja sabedoria é mais elevada que o que está escrito; portanto, sua sabedoria é loucura. Descobrem antecipadamente coisas maravilhosas, ideias que revelam estarem eles grandemente atrasados na compreensão da vontade divina e dos desígnios de Deus. Buscando esclarecer ou desemaranhar mistérios por séculos ocultos aos mortais, são como um homem a chapinhar na lama, incapaz de desembaraçar-se a si mesmo, e todavia dizendo aos outros como saírem do lodoso mar em que eles próprios se debatem. Esta é uma justa representação dos homens que se põem a corrigir os erros da Bíblia. Homem algum pode aperfeiçoar a Bíblia sugerindo o que o Senhor queria dizer ou devia ter dito.
Alguns nos olham seriamente e dizem: “Não acha que deve ter havido algum erro nos copistas ou da parte dos tradutores?” Tudo isso é provável, e a mente que for tão estreita que hesite e tropece nessa possibilidade ou probabilidade, estaria igualmente pronta a tropeçar nos mistérios da Palavra Inspirada, porque sua mente fraca não pode ver através dos desígnios de Deus. Sim, com a mesma facilidade tropeçariam em fatos simples que a mente comum aceita e em que discerne o Divino, e para quem as declarações de Deus são simples e belas, cheias de essência e riqueza. Mesmo todos os erros não causarão dificuldade a uma alma, nem farão tropeçar os pés de alguém que não fabrique dificuldades da mais simples verdade revelada.
Deus confiou o preparo de Sua Palavra divinamente inspirada ao homem finito. Esta Palavra, arranjada em livros — o Antigo e o Novo Testamentos — é o guia para os habitantes de um mundo caído, a eles legado para que, mediante o estudar as direções e obedecer-lhes, alma alguma perdesse o caminho do Céu.
Os que pensam tornar claras as supostas dificuldades da Escritura determinando por sua regra finita o que é inspirado e o que não o é, melhor fariam em cobrir o rosto como Elias quando lhe falou a vozinha mansa e delicada; pois se encontram na presença de Deus e dos santos anjos, que por séculos têm comunicado aos homens luz e conhecimento, dizendo-lhes o que fazer e o que não fazer, desdobrando diante deles cenas de emocionante interesse, marco por marco em símbolos e sinais e ilustrações.
E Ele [Deus] enquanto apresenta os perigos que se agrupam em torno dos últimos dias, não habilitou homem finito algum a desvelar ocultos mistérios nem inspirou um homem ou uma classe de homens a pronunciar juízo quanto ao que é ou não é inspirado. Quando homens, em seu juízo finito, julgam necessário fazer um exame de textos para definir o que é inspirado e o que o não é, estão dando um passo adiante de Jesus a fim de mostrar-Lhe um caminho melhor do que aquele em que Ele nos tem guiado.
Tomo a Bíblia tal como ela é, como a Palavra Inspirada. Creio nas declarações de uma Bíblia inteira. Levantam-se homens que julgam ter alguma coisa a criticar na Palavra de Deus. Eles a expõem diante de outros como prova de superior sabedoria. Esses homens são, muitos deles, inteligentes, instruídos, possuem eloquência e talento, homens cuja vida toda é desassossegar espíritos quanto à inspiração das Escrituras. Influenciam muitos a ver segundo eles próprios veem. E a mesma obra é transmitida de um para outro, da mesma maneira que Satanás designou que fosse, até que possamos ver plenamente o sentido das palavras de Cristo: “Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na Terra?” Lucas 18:8.
Irmãos, nenhuma mente ou mão se empenhe em criticar a Bíblia. É uma obra que Satanás se deleita que qualquer de vós faça, mas não é obra a vós designada pelo Senhor.
Os homens devem deixar que Deus cuide de Seu próprio Livro, Seus oráculos vivos, como Ele tem feito por séculos. Eles começam a pôr em dúvida algumas partes da revelação, e acham falhas nas aparentes incoerências desta e daquela declaração. Começando em Gênesis, eles rejeitam aquilo que julgam questionável, e sua mente os leva adiante, pois Satanás levará a qualquer extensão a que eles o sigam em sua crítica, e vejam alguma coisa de que duvidar em todas as Escrituras. Suas faculdades de crítica são aguçadas pelo exercício, e não podem repousar em nada com certeza. Procurais raciocinar com esses homens, mas é tempo perdido. Eles exercerão sua capacidade de ridículo mesmo sobre a Bíblia. Tornam-se até zombadores, e ficariam surpreendidos se os fizésseis ver as coisas por esse aspecto.
Irmãos, apegai-vos à Bíblia, tal como ela diz, parai com vossas críticas relativamente a sua validade, e obedecei à Palavra, e nenhum de vós se perderá. O engenho dos homens se tem exercitado através dos séculos para medir a Palavra de Deus por sua mente finita e limitada compreensão. Se o Senhor, o Autor das Sagradas Escrituras, retirasse a cortina e revelasse Sua sabedoria e Sua glória perante eles, reduzir-se-iam a nada, e exclamariam como Isaías: Sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios.” Isaías 6:5.
Simplicidade e enunciação clara são compreendidas pelo iletrado, o camponês e a criança, da mesma maneira que pelo homem já desenvolvido ou o gigante no intelecto. Caso a pessoa seja possuidora de grandes talentos de faculdades mentais, encontrará na Palavra de Deus tesouros de verdade, belos e valiosos, de que se pode apoderar. Encontrará também dificuldades, e segredos e maravilhas que lhe proporcionarão a mais alta satisfação no estudar por longo tempo através da vida, e resta ainda um infinito para além.
Homens de humildes aquisições, que possuem apenas capacidade e ensejos limitados de se tornarem familiares com as Escrituras, encontram conforto, guia e conselho nas Sagradas Escrituras, e acham o plano da salvação tão claro como um raio de sol. Ninguém precisa perder-se por falta de conhecimento, a menos que seja voluntariamente cego.
Damos graças a Deus por ser a Bíblia preparada para o pobre da mesma maneira que para o homem de saber. Ela se adapta a todas as idades, todas as classes. — Manuscrito 16, 1888. - EGW


 
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