As mentes humanas variam. Mentes de educação e pensamento diverso recebem diferentes impressões das mesmas palavras, e difícil é a um espírito transmitir a outro de temperamento, educação e hábitos de pensamento diferentes, através da linguagem, exatamente a mesma ideia que é clara e distinta em seu próprio espírito. Todavia para homens sinceros, retos de espírito, ele pode ser tão simples e claro que comunique sua intenção para todos os fins práticos. Caso o homem com quem ele se comunique não seja sincero e não queira ver e compreender a verdade, dará a suas palavras e linguagem a direção que se ajuste a seus próprios desígnios. Interpretará mal suas palavras, jogará com a imaginação, torcer-lhes-á o verdadeiro sentido, e então, entrincheirar-se-á na incredulidade, pretendendo que os sentimentos estão todos errados... Transformam a verdade de Deus em mentira. Leem-na segundo seus desejos de perverter, aplicar mal, torcer voluntariamente as declarações de seu verdadeiro sentido. Declaram eles que a Bíblia pode provar qualquer coisa e tudo, e cada seita prova que suas doutrinas estão certas, e que as doutrinas mais diversas são provadas pela Bíblia.
Os escritores da Bíblia tiveram de exprimir suas ideias em linguagem humana. Ela foi escrita por seres humanos. Esses homens foram inspirados pelo Espírito Santo. Devido a imperfeições da compreensão humana da linguagem, ou da perversidade da mente humana, hábil em fugir à verdade, muitos leem e entendem a Bíblia de maneira a se agradarem a si mesmos. Não é que a dificuldade esteja na Bíblia. Adversários políticos questionam pontos de lei no livro dos estatutos, e tomam atitudes opostas em sua aplicação, e nessas leis.
As Escrituras foram dadas aos homens, não em uma cadeia contínua de ininterruptas declarações, mas parte por parte através de sucessivas gerações, à medida que Deus, em Sua providência, via apropriada ocasião para impressionar o homem nos vários tempos e diversos lugares. Os homens escreveram segundo foram movidos pelo Espírito Santo. Há “primeiro o botão, depois a flor, e em seguida o fruto”, “primeiro a erva, depois a espiga, e por último o grão cheio na espiga”. Marcos 4:28. Isto é exatamente o que as declarações bíblicas são para nós.
Nem sempre há perfeita ordem ou aparente unidade nas Escrituras. Os milagres de Cristo não são dados na ordem exata, mas justo segundo ocorriam as circunstâncias, as quais reclamavam esta divina revelação do poder de Cristo. As verdades da Bíblia são como pérolas ocultas. Devem ser buscadas, desenterradas mediante penosos esforços. Os que apanham apenas uma apressada visão das Escrituras hão de, com seu conhecimento superficial que eles julgam muito profundo, falar nas contradições da Bíblia, e pôr em dúvida a autoridade das Escrituras. Aqueles, porém, cujo coração se acha em harmonia com a verdade e o dever, pesquisarão as Escrituras com o coração preparado para receber impressões divinas. A alma iluminada vê unidade espiritual, um grande fio de ouro através do todo, mas requer paciência, reflexão e oração o rastrear o áureo fio precioso. Contendas amargas a respeito da Bíblia levaram a pesquisas e revelaram as preciosas jóias da verdade. Muitas lágrimas foram vertidas, muitas orações feitas para que o Senhor abrisse o entendimento para Sua Palavra.
A Bíblia não nos é dada em elevada linguagem sobre-humana. A fim de chegar aos homens onde eles se encontram, Jesus revestiu-Se da humanidade. A Bíblia precisa ser dada na linguagem dos homens. Tudo quanto é humano é imperfeito. Significações diversas são expressas pela mesma palavra; não há uma palavra para cada ideia distinta. A Bíblia foi dada para fins práticos.
Diferentes são os cunhos mentais. As expressões e declarações não são compreendidas da mesma maneira por todos. Alguns entendem as declarações das Escrituras segundo sua mente e casos especiais. As prevenções, os preconceitos e as paixões têm forte influência para obscurecer o entendimento e confundir a mente mesmo ao ler as palavras da Santa Escritura.
Os discípulos de caminho para Emaús, necessitaram ser desembaraçados de sua interpretação das Escrituras. Jesus caminhou com eles disfarçado, e como homem falou com eles. Começando por Moisés e os profetas, ensinou-lhes todas as coisas referentes a Ele próprio, que Sua vida, Sua missão, Seus sofrimentos e Sua morte estavam justo em harmonia com o que a Palavra de Deus predissera. Abriu-lhes o entendimento para que compreendessem as Escrituras. Quão pronto estendeu Ele sem rodeios as emaranhadas extremidades e mostrou a unidade e a divina verdade das Escrituras! Quantos homens em nossos tempos necessitam de que seu entendimento seja aberto!
A Bíblia foi escrita por homens inspirados, mas não é a maneira de pensar e exprimir-se de Deus. Esta é da humanidade. Deus, como escritor, não Se acha representado. Os homens dirão muitas vezes que tal expressão não é própria de Deus. Ele, porém, não Se pôs à prova na Bíblia em palavras, em lógica, em retórica. Os escritores da Bíblia foram os instrumentos de Deus, não Sua pena. Olhai os diversos escritores.
Não são as palavras da Bíblia que são inspiradas, mas os homens é que o foram. A inspiração não atua nas palavras do homem ou em suas expressões, mas no próprio homem que, sob a influência do Espírito Santo, é possuído de pensamentos. As palavras, porém, recebem o cunho da mente individual. A mente divina é difusa. A mente divina, bem como Sua vontade, é combinada com a mente e a vontade humanas; assim as declarações do homem são a Palavra de Deus. — Manuscrito 24, 1886. - EGW

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